Artur Marques da Silva Filho*

O assassinato da professora de ciências Elizabeth Tenreiro por um adolescente de 13 anos, na Escola Estadual “Thomazia Montoro”, na Vila Sônia, em São Paulo, numa agressão com faca que feriu outras três mestras e um aluno, é mais um lamentável episódio no âmbito de uma tendência crescente em nosso país. Trata-se de um problema que exige profunda atenção e medidas urgentes.
 

Relatório apresentado nos trabalhos do governo de transição, em dezembro último, mostra que 35 estudantes e professores haviam sido mortos em ataques no Brasil desde o início dos anos 2000. É uma forma de violência relativamente nova em nossa sociedade, pois antes disso não há relatos de casos em escolas no país. Segundo o documento, os atos, praticados por alunos e ex-alunos, são associados ao bullying e situações prolongadas de exposição a processos violentos, incluindo negligência familiar, autoritarismo parental e conteúdo disseminado em redes sociais e aplicativos de trocas de mensagem.

Como se observa, o problema é grave, tem diversificadas causas e merece um tratamento multidisciplinar. Porém, por mais que um jovem sinta-se moralmente ofendido, nada justifica atentar contra a vida de seus colegas, professores e quaisquer pessoas. Assim, sem a pretensão de uma análise sociológica, psicológica, comportamental ou pedagógica, feita com propriedade e conhecimento pelos especialistas, ouso ponderar que, sendo um microuniverso da sociedade, cada escola reproduz a onda de violência civil.
 

A criminalidade, inclusive a praticada pelas facções organizadas e milícias, é uma realidade há muito tempo presente no Brasil. No entanto, são cada vez mais recorrentes as brigas, muitas vezes com mortes, entre pessoas pretensamente do bem, no trânsito, nos lares, em festas, no futebol, nas escolas, na política e nas ruas. O vírus da violência torna-se epidêmico.
 

Professores e alunos, num ambiente de natureza pacífica e destinado ao ensino, ficam muito expostos a essa nova onda de agressões. O mesmo se observa, de maneira geral, com funcionários públicos que interagem de modo direto com o público, como profissionais de saúde, fiscais, magistrados, servidores dos fóruns e cartórios das varas da Justiça, agentes de limpeza urbana e da orientação e fiscalização do trânsito. Há numerosos relatos de agressões físicas e morais.
 

Nas escolas, em especial as públicas, nas quais o problema mostra-se mais agudo, penso ser urgente um programa permanente de acompanhamento psicológico dos alunos, ações educativas de interação e tolerância social, combate ao bullying e prevenção da violência. Precisamos, sobretudo, de ampla mobilização e campanhas institucionais de pacificação social.
 

Em todas essas frentes, o Estado tem imensa responsabilidade, assim como as empresas, famílias e organizações da sociedade civil. Precisamos agir para pacificar os brasileiros e nossa juventude. Não podemos mais ficar de braços cruzados assistindo à violência contaminar nossa população e apenas lamentar de modo resignado os tristes episódios como o que tirou a vida da professora Elizabeth Tenreiro.

*Artur Marques da Silva Filho, desembargador aposentado do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, é presidente da Associação dos Funcionários Públicos do Estado de São Paulo (AFPESP).

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Sobre a AFPESP

A Associação dos Funcionários Públicos do Estado de São Paulo (AFPESP) é uma entidade sem fins lucrativos e direcionada ao bem-estar dos servidores civis estaduais, municipais e federais atuantes do território paulista. Fundada há nove décadas, é a maior instituição associativa da América Latina, com mais de 240 mil associados.
 

Está presente em mais de 30 cidades. Tem sede e subsede social no centro da capital paulista, 20 unidades de lazer com hospedagem em tradicionais cidades turísticas litorâneas, rurais e urbanas de São Paulo e Minas Gerais, além de 19 unidades regionais distribuídas estrategicamente no Estado de São Paulo.

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