*Por Maria Ribeiro da Luz, CEO da Anandamidia, agência de comunicação especializada em cannabis.
Com a crescente disseminação de informações sobre o potencial terapêutico da cannabis, cada vez mais a planta vem ganhando espaço no mercado para atender pacientes. Eles, por sua vez, ganham mais qualidade de vida e perspectivas de cura no tratamento de dores crônicas, epilepsia, autismo, câncer e muitas outras patologias.
O Brasil é um dos países que mais produz artigos científicos e materiais sobre as propriedades da cannabis. Além disso, a evolução científica permitiu unir tratamentos alopáticos e fitoterápicos de acordo com a necessidade do paciente, a fim de oferecer alternativas eficazes.
A partir desse grande fluxo de informações disponíveis, observamos uma maior aceitação da classe médica em prescrever medicamentos à base dos ativos da planta. Com o devido acompanhamento profissional, a cannabis pode ser indicada a uma grande parcela da população, para diversas patologias, incluindo questões de saúde mental. Os médicos especialistas cada vez mais buscam alternativas que possibilitem proporcionar bem-estar em doenças como Parkinson e Alzheimer, condições neurodegenerativas que não têm cura.
Além dos benefícios comprovados para a população na área da saúde, a evolução da discussão sobre cannabis medicinal promete novos nichos de negócios. Segundo o banco de investimentos Cowen, esse mercado tem tido crescimento de 28% ao ano, podendo chegar a US$ 100 bilhões em vendas até 2030 somente nos Estados Unidos.
Existem diversos setores que compõem um amplo ecossistema em torno da cannabis, como os setores alimentício, medicinal, cosméticos, recreativo e de bem-estar. Adicionalmente, há também o promissor segmento da agricultura, que se concentra no cultivo e produção da planta.
Atualmente, a movimentação do setor farmacêutico promete a próxima revolução. A indústria de fármacos é um dos segmentos mais poderosos do mundo, responsável pela manutenção da saúde de bilhões de pessoas ao redor do planeta. No Brasil, de acordo com dados da consultoria IQVIA, a área somou R$ 88,3 bilhões em vendas em 2021, crescimento de 14,7% comparado ao ano anterior.
A NetCann é um exemplo nesse âmbito, sendo hoje a primeira e única empresa no Uruguai a abranger toda a cadeia de valor da cannabis, desde o cultivo das sementes até os produtos finais com CBD e THC. Acompanho que a marca está de olho no mercado brasileiro e anunciou sua recém chegada. Vi que a expansão deles prevê a entrada no Brasil de produtos registrados como fármacos e comercialização em farmácias e drogarias, conforme prescrição médica. Isso só atesta um setor em franco crescimento.
Outro estudo, da Universidade da Geórgia, nos Estados Unidos, aponta que US$ 4 bilhões podem ser injetados no mercado anualmente com a venda de produtos derivados da cannabis. No Brasil, o setor tem grande potencial, mas a produção e o cultivo da cannabis ainda são proibidos em solo nacional. A atual regulamentação permite apenas a importação desses produtos ou da matéria-prima semielaborada.
Com essa liberação da Anvisa para importação e venda de medicamentos, em março de 2020, muitas empresas já começaram a investir por aqui. A Associação Brasileira das Indústrias de Cannabis (Abicann) estima que o mercado pode movimentar um total de US$ 30 bilhões e gerar até 300 mil empregos dentro de dez anos. Metade disso só no setor farmacêutico.
Nos últimos seis anos, a Agência de Vigilância Sanitária teve um aumento de 2.400% nos pedidos de aprovação de medicamentos derivados da maconha. Somente em 2021 foram solicitadas 38.387 autorizações de importação. Neste segmento, o mercado farmacêutico teve crescimento de 14,9% em 2021 comparado a 2020, segundo a Associação Brasileira das Redes de Farmácias e Drogarias (Abrafarma).
Em março de 2023, devido a um pedido de autorização para importação de sementes para plantio, comercialização e exploração industrial da cannabis sativa por uma empresa de biotecnologia, a Primeira Seção do Superior Tribunal de Justiça (STJ) determinou a suspensão, em todo o país, da tramitação das ações individuais ou coletivas que discutem a possibilidade de autorização para importação e cultivo de variedades de cannabis para fins medicinais, farmacêuticos ou industriais.
Todos esses movimentos em torno do setor demonstram a urgência de regulamentação da cannabis, tanto no âmbito medicinal, como industrial, para atender as necessidades dos brasileiros, afinal, o potencial da planta é enorme em diversos sentidos. Por um lado, a cannabis viabiliza tratamento para um recorte expressivo de doenças de forma natural, trazendo alternativas antes impensadas para uma grande quantidade de pacientes, contribuindo para melhorar a qualidade de vida da população, bem como destravar os sistemas públicos de atendimento. Por outro lado, há potencial para alavancar vendas, arrecadar impostos e aquecer a economia.
Independentemente das restrições que ainda existem no segmento, o principal segredo para o sucesso de um investimento é saber identificar as oportunidades de mercado e suas possibilidades de desenvolvimento, além de estar sempre atento às tendências.
O fato é que a legalização e a aplicação médica da cannabis são caminhos sem volta e quem se debruçar nas diversas possibilidades para o futuro pode trilhar um caminho inovador e, principalmente, motivador para milhares de famílias que ganham mais perspectivas e qualidade de vida com a terapia.
*Por Maria Ribeiro da Luz, CEO da Anandamidia, agência de comunicação especializada em cannabis.