Os problemas relacionados à ansiedade, depressão e outros transtornos têm sido cada vez mais comuns na população em geral, especialmente a brasileira.

Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil é o país com maior taxa de transtorno de ansiedade no mundo, com 9,3% da população sofrendo com o problema. Já os casos de depressão afetam cerca de 5,8% da população brasileira.

Os efeitos da pandemia de Covid-19 têm sido apontados como um dos principais fatores que contribuíram para o aumento dos casos de ansiedade e depressão no país, e ainda podem ser fortemente sentidos. O isolamento social, a incerteza em relação ao futuro, as restrições impostas pela quarentena e até mesmo a impossibilidade dos rituais tradicionais do luto, que não puderam ser realizados, afetaram a saúde mental da população de forma significativa, que atualmente luta para se recuperar desse trauma.

Para a psicóloga Talita Padovan, especialista em Terapia Cognitiva Comportamental (abordagem baseada em evidências), não considerar os problemas psicológicos como quaisquer outros problemas de saúde, é algo que contribui bastante para o aumento de transtornos psicológicos na população.

“Quando você tem dor no corpo, o que você faz? Procura um médico e trata, com medicamentos, a dor no corpo. O mesmo deveria ser para as dores psicoemocionais. Tem de procurar auxílio profissional o mais rápido possível, e tratar.” aponta a psicóloga. 

A especialista esclarece ainda que os problemas emocionais podem se agravar com o tempo, trazendo outros prejuízos à saúde física e mental do paciente, podendo até, em casos extremos, levar ao suicídio, conforme aponta um estudo conduzido pela Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais.

Talita Padovan esclarece que “casos mais extremos, como o suicídio, a ideação suicida e os comportamentos autolesivos, quando corretamente tratados, podem ser evitados. É preciso ficar muito atento aos sinais de transtornos psicológicos e tratar, já que negligenciá-los pode levar sim a consequências mais graves.”.

De acordo com o Conselho Federal de Medicina (CFM), a taxa de suicídio no Brasil cresceu 43% na última década. Entre os adolescentes, segundo a entidade, o aumento foi de 81%, indo de 3,5 suicídios por 100 mil adolescentes para 6,4. Nos casos em menores de 14 anos, houve um aumento de 113% na taxa de mortalidade por suicídios, fazendo do suicídio a quarta causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos.

“Atualmente, a terapia comportamental dialética é a mais efetiva para tratamento das pessoas em grande sofrimento emocional, comportamentos autolesivos, ideação suicida e tentativas de suicídio. Porém, o investimento dos profissionais, para se especializarem, é muito alto, impossibilitando que grande parte da população tenha acesso a esse tratamento. Portanto, o fato é que, no Brasil, não existem investimentos para uma prática com estudos científicos robustos, como é a terapia comportamental dialética, nos ambulatórios de saúde mental”, pontua Talita Padovan.

A psicóloga alerta ainda para os principais sintomas que podem ‘acender um alerta’ para possíveis transtornos mentais, como a ansiedade: “Coração acelerado antes de uma prova importante ou uma reunião decisiva, é totalmente compreensível. Mas se a pessoa percebe que essa sensação é constante, é preciso ficar atento. Dificuldade recorrente para dormir, dificuldade de prestar atenção às atividades laborais por sempre estar pensando no pior, são alguns pontos importantes que precisam ser avaliados mais de perto por um profissional”.

O Brasil também lidera o ranking dos países no mundo em que a população passa mais tempo conectada à internet, passando, o brasileiro, em média, quase cinco horas e meia por dia diante de seus aparelhos, segundo um estudo recente lançado pela empresa de análise de mercado digital App Annie. Paralelo a esse estudo, a Canadian Journal of Psychiatry comprovou que quanto maior o uso de telas, maior o nível de ansiedade.

Talita Padovan é psicóloga com formação em Psicologia Baseada em Evidências, ou seja, tratamentos que possuem comprovação científica fiável. Portanto, a especialista defende que, além do tratamento das doenças psicológicas precisar ser tratado de maneira mais séria, é de igual importância que existam protocolos a serem seguidos para os tratamentos, preferencialmente com ensaios clínicos e de eficácia comprovada.

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