Especialista em medicina ocupacional Marcos Mendanha explica como esse fator pode impactar nas atividades dos agentes de segurança pública
Seja em cargos que estão diariamente nas ruas ou nos mais estratégicos, os policiais são agentes importantíssimos para o funcionamento da nossa sociedade. Segundo a agência de dados “Fiquem Sabendo”, só no estado de São Paulo, entre 2020 e 2021, houve mais de 1600 licenças por transtornos mentais para policiais. A rotina estressante e de altos riscos traz impactos diretos na saúde física e mental desses profissionais, o que pode atrapalhar diretamente no desempenho de suas funções.
“Trata-se de uma atividade extremamente importante para a garantia da normalidade social, e que por sua natureza exige um imenso autocontrole individual e cumprimento de rígidos protocolos de segurança. Essas atividades não são compatíveis com uma saúde mental deteriorada, por isso a importância de priorizarmos a saúde mental dessa categoria”, explica o médico do trabalho e diretor da Faculdade CENBRAP, Marcos Mendanha.
Várias ações podem ser realizadas na promoção da saúde mental dos policiais. Uma jornada de trabalho sustentável, por exemplo, pode trazer benefícios imediatos, já que a sobrecarga é uma geradora de estresse crônico, que pode provocar o adoecimento mental.
“Ações que promovam o sentimento de comunidade também podem ser uma saída, pois a rígida hierarquia militar promove sentimentos que se antagonizam, a depender do seu uso. Quando a hierarquia é bem executada, sem abuso de poder e/ou assédios, ela pode gerar um profundo senso de companheirismo, respeito, cuidado e cumplicidade, evitando distanciamento entre os profissionais e promovendo saúde mental”, comenta o especialista.
O estresse crônico, quando não bem gerenciado, seja pela corporação e também ou pelo próprio agente, gera adoecimento nos indivíduos mais suscetíveis. Doenças como o transtorno depressivo, transtorno de pânico, transtorno de ansiedade generalizada, transtorno do estresse pós-traumático e o transtorno relacionado ao uso de substâncias podem atingir esses profissionais e causar efeitos que exigem afastamento profissional para um bom tratamento.
“Ainda que não seja classificada como uma doença mental pela Organização Mundial de Saúde (OMS), muitos estudos também sugerem uma alta prevalência da síndrome de burnout – uma espécie de fadiga relacionada ao trabalho – entre policiais. Ou seja, é uma categoria que precisa de atenção, já que a execução de suas atividades impacta diretamente no funcionamento da sociedade”, finaliza Mendanha.
Sobre Marcos Mendanha
É médico, diretor e professor da Faculdade CENBRAP, onde realiza e coordena estudos, cursos e eventos sobre Psiquiatria e saúde mental do trabalhador há mais de 10 anos. É especialista em Medicina do Trabalho e também em Medicina Legal e Perícia Médica.
É advogado especialista em Direito do Trabalho; pós-graduado em Filosofia; e professor convidado da pós-graduação em Medicina do Trabalho, da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FM-USP).
É autor dos livros “O que ninguém te contou sobre Burnout – Aspectos práticos e polêmicos” (Editora Mizuno), “Medicina do Trabalho e Perícias Médicas – Aspectos práticos e polêmicos” (Editora LTr), e “Limbo Previdenciário Trabalhista – Causas, consequências e soluções à luz da jurisprudência comentada” (Editora Mizuno); e coautor de várias obras. É coordenador do Congresso Brasileiro de Psiquiatria Ocupacional (CBPO) e do Congresso Brasileiro de Medicina do Trabalho e Perícias Médicas (CBMT PM).