Segundo especialista, pandemia prejudicou diagnóstico preventivo; incidência ocupacional dos tumores pulmonares está entre 17% e 29%

Duas datas específicas neste mês contribuem para reflexões sobre cuidados com a saúde: o Dia Nacional da Saúde (5) e o Dia Mundial do Câncer de Pulmão, que abre o mês de agosto com a conscientização sobre uma das maiores causas de morte no Brasil. Dados fornecidos pelo Instituto Nacional do Câncer (INCA) através do relatório “Estimativa 2023 – Incidência de Câncer no Brasil” indicam que serão diagnosticadas 704 mil neoplasias inéditas anualmente entre 2023 e 2025.

O câncer de pulmão ocupa o segundo lugar dentre os tumores mais frequentes no Brasil, com cerca de 30 mil casos por ano. O instituto ainda indica que, até 2040, o gasto do Sistema Único de Saúde (SUS) com os vários tipos de câncer ultrapassará o dobro da despesa notificada pelo órgão em 2018, com um valor equivalente a quase R$ 8 bilhões. 

Em relação a estes dados, constatou-se que a neoplasia pulmonar é o terceiro tipo mais comum em homens e o quarto em mulheres, com 18.020 e 14.540 novos casos, respectivamente. Em termos de mortalidade, ocupa o primeiro lugar entre os homens e o segundo entre as mulheres, de acordo com as estimativas globais. Existe, ainda, uma concentração regional no Brasil, uma vez que 70% dos diagnósticos acontecem nas regiões Sul e Sudeste.

Alex Araujo, CEO da 4Life Prime – líder no segmento de saúde ocupacional, afirma que, dentre os tipos de câncer, os pulmonares são os que mais matam atualmente: “Por serem tumores silenciosos, apenas 16% são identificados no início de sua formação, por isso a alta mortalidade”.

O especialista ainda sinaliza para os efeitos do pós-pandemia na prevenção: “Foi depois da Covid-19 que as pessoas perderam o costume de fazer exames periódicos e consultas rotineiras. Porém, é exatamente aí que surge a urgência da conscientização, a fim de evitar um aumento de casos e, consequentemente, de mortes”. O índice de sobrevivência por meio de diagnóstico precoce, segundo dados do INCA, é de 56%. 

De acordo com o órgão, aproximadamente 90% dos casos desse tipo de tumor são atribuídos ao tabagismo. Entretanto, um outro elemento relevante está associado à presença de substâncias cancerígenas, como o arsênico, no ambiente de trabalho. Entre 17% e 29% das ocorrências de câncer de pulmão estão vinculadas à exposição ocupacional segundo a estimativa da Organização Internacional do Trabalho (OIT). O risco provém de fatores como: duração e dimensão da exposição, condições laborais e especificidades da genética individual.

Apesar do fato, a maior parte das empresas não possui planos ou estruturas adequadas e encontram dificuldades para lidar com situações do gênero. De acordo com um estudo intitulado “Como as organizações enfrentam o câncer”, conduzido pela Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH) em colaboração com o movimento sem fins lucrativos Go All, mesmo que 58% das empresas instituem ações informativas e conscientizadoras em favor da prevenção de cânceres, tais campanhas tendem a ser pouco específicas e mal implementadas. 

Na prática, só 9% das empresas possuem medidas concretas, como acompanhamento e tratamento relacionadas diretamente aos tumores. Dos 20% que de fato oferecem estrutura para programas de saúde, a maior parte refere-se a atendimentos sem relação ao tratamento do câncer, com serviços como check-ups (73%) e educação para a saúde (72%).

“Se existem campanhas, estão majoritariamente concentradas em mobilizações mundiais, como Outubro Rosa e Novembro Azul”, problematiza Alex Araujo. O especialista finaliza sinalizando que o problema vai além do investimento: “São nessas carências que se torna evidente uma escassez de humanização nos ambientes de trabalho industriais ou de construção civil. A prevenção concentra-se no espaço corporativo, enquanto a mão-de-obra operacional brasileira é invisibilizada pela priorização de cargos mais altos na hierarquia, como diretoria ou setor executivo.”

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