Especialista destaca como a IA pode desempenhar um papel crucial no segmento médico
Como a inteligência artificial pode contribuir para a área médica? As tecnologias que utilizam Inteligência Artificial (IA) auxiliam o setor de diversas formas, proporcionando atendimentos e diagnósticos mais rápidos e precisos, reduzindo custos e melhorando a experiência de pacientes e de profissionais.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) ressalta que a IA é uma grande promessa para melhorar a prestação de serviços de saúde em todo o mundo, que pode ser utilizada para melhorar a velocidade e a precisão do diagnóstico e da triagem de doenças, auxiliar no atendimento clínico e fortalecer a pesquisa em saúde, bem como o desenvolvimento de medicamentos. Também pode apoiar diversas ações de saúde pública, como vigilância de doenças e gestão de sistemas.
De acordo com Kenneth Corrêa, professor de MBA da FGV e especialista em novas tecnologias, inteligência artificial e metaverso, a chamada IA Generativa – com capacidade de aprender padrões complexos de comportamento a partir de uma base de dados – foi revolucionada com a criação da ferramenta Chat GPT, inteligência artificial capaz de atuar com rapidez e agilidade no processamento de dados e criação de novos conteúdos, inclusive na área da saúde.
“O que nos deixa mais fascinados pelas IA é a velocidade com que as coisas acontecem e a assertividade com que estão sendo obtidos os diagnósticos médicos. Inclusive, recentemente, foi desenvolvido um teste com pacientes atendidos por médicos humanos e pela ferramenta Chat GPT. Embora não soubessem que estavam conversando com uma IA, 80% das pessoas preferiram o atendimento feito pelo robô”, conta o especialista, referindo-se ao estudo publicado em abril deste ano pela JAMA Medicina Interna .
Em maio passado, o Google anunciou a evolução de sua plataforma de inteligência artificial e seu próprio modelo de linguagem, o PaLM 2, recurso capaz de gerar textos em mais de 100 idiomas e trabalhar com mais de 20 linguagens de programação. A empresa global ressaltou que, dentre as várias áreas que estão usando, existe uma específica para o atendimento médico: o chatbot Med-PaLM-2. A ferramenta já está operando em hospitais de pesquisa, e tem como objetivo responder perguntas médicas de forma muito próxima do que faria um médico humano. Além disso, realiza tarefas como resumir documentos ou organizar grandes volumes de dados de saúde.
Na área da saúde, Kenneth também ressalta a utilização das técnicas Machine Learning e Redes Neurais, as quais possibilitam a leitura de exames de imagem, como raio-x e ressonância magnética, e a leitura de exames de padrões, como ecocardiograma.
Atendimento escalável e personalizado
A inteligência artificial na saúde funciona como uma enciclopédia. “Ela tem uma base de dados com basicamente todos os diagnósticos que foram feitos num determinado hospital, por exemplo, e que estejam registrados em sistema, contando todo o histórico do paciente. Essas informações são cruzadas com as de livros de Medicina, de todo o Catálogo Internacional de Doenças. Assim, a IA reconhece e identifica sinais, sintomas e exames e, a partir dali, recomenda o diagnóstico mais provável”, explica Kenneth. Importante ressaltar que, por conta da regulamentação global, o laudo final é assinado pelo médico humano, após análise das respostas dadas pela IA.
Um dos principais ganhos na aplicação da IA na saúde é a chamada personalização em escala, ou seja, com a tecnologia torna-se possível prestar um atendimento personalizado, com qualidade, para uma grande quantidade de pessoas.
“Eu não vejo, ainda, uma modificação no sistema de saúde em que o robô vai fazer um atendimento completo. Mas, se ele beneficia a operação de atendimento fazendo uma triagem, por exemplo, o médico ganha agilidade. Então é muito válido utilizar a IA como ferramenta de apoio, pela facilidade e praticidade”.
É o caso do Sistema Laura, que, em 2020, começou a ser instalado em instituições brasileiras de saúde pública. A partir desta IA e da tecnologia cognitiva, os dados da rotina hospitalar são gerenciados e alertas são emitidos para a equipe assistencial, para que os pacientes mais críticos sejam atendidos com prioridade e recebam o tratamento adequado o quanto antes. Milhares de vidas já foram salvas por causa desta tecnologia, desenvolvida pela healthtech Laura.
IA e medicina: é seguro?
Com tantos avanços na IA na área da saúde, a pergunta que paira no ar é: os atendimentos feitos pelos robôs são seguros? A Organização Mundial da Saúde (OMS) emitiu um alerta de que é preciso muita cautela ao usar a nova tecnologia em busca de diagnósticos e tratamentos.
Kenneth se posiciona a favor deste alerta, uma vez que, em sua opinião, “algo que a gente não está pronto para fazer como humanidade, como sociedade organizada do ano 2023, é o robô fazer o diagnóstico, tampouco ser responsabilizado pelo diagnóstico”.
Segundo o especialista, é possível a IA confundir uma informação e seguir o atendimento de maneira errônea. Por este motivo, a tecnologia deve ser vista no papel de suporte. “Por isso, a forma como eu recomendo que centros clínicos, hospitais, os próprios profissionais da saúde utilizem o que já tem disponível de IA é sempre como um apoio na produtividade, na realização do pré-diagnóstico, de forma que o robô ajude o profissional de saúde, o qual deve ser responsável e sempre checar todas as informações passadas pela máquina antes de realizar um atendimento”.
Desafios da IA na saúde
A questão da responsabilização é um dos desafios da Inteligência Artificial. “Quem será responsabilizado caso o atendimento apresente uma falha de sistema? É claro que, por trás de todo atendimento, tem que estar o médico humano e a sua responsabilidade por aquele paciente”, pontua Kenneth Corrêa.
Outro desafio passa pela aceitação das pessoas em serem atendidas por um robô. “Tudo bem dizer que, no teste citado, a qualidade no atendimento do Chat GPT ganhou nota mais alta. Mas será que o paciente sabia que estava sendo atendido por um robô? As pessoas gostam de conversar com outra pessoa, sentem-se mais seguras em saber que estão sendo atendidos por alguém que dá a devida atenção ao caso delas”.
E um terceiro desafio a ser pontuado é o custo. “Como a IA funciona como uma enciclopédia, só é possível gerar conhecimento de atendimento médico, de diagnóstico, em cima de um histórico, em cima da base de dados. E então, se você usa uma IA Proprietária, que foi desenvolvida, por exemplo, por uma universidade de Medicina, ela vai te liberar o uso e vai cobrar por isso. Ou então você terá que lidar com os investimentos de criar sua própria base de dados”.
O futuro da IA na área da saúde
Para o especialista, o futuro da aplicação da inteligência artificial na área da saúde é bastante promissor. “Com a revolução do Chat GPT, de outubro de 2022 para cá, as pessoas estão aceitando muito mais que existe IA, que ela já é usada no dia a dia em algumas áreas específicas. Essas mudanças ajudam a diminuir bloqueios e barreiras. As pessoas vão percebendo que o mundo está cada vez mais complexo e que é possível usar a IA a nosso favor. Sem contar que o Chat GPT é acessível e qualquer pessoa pode desenvolver uma solução usando a ferramenta”.
Além da aceitação, outro fator importante para o futuro da IA na saúde são os investimentos feitos pelos grandes players de tecnologia. “Multinacionais como Google, Meta, Amazon, IBM estão apostando alto em IA. Em geral, para onde vai o dinheiro, há um desenvolvimento acelerado, resultando em boas ideias e boas soluções”, conclui.
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Kenneth Corrêa – especialista em inovação, negócios digitais, novas tecnologias, inteligência artificial e metaverso. Professor de MBA da FGV. Há mais de 15 anos desenvolve e monitora projetos de marketing e tecnologia, atendendo empresas como Suzano, Mosaic Fertilizantes, Leica Microsystems, entre outras. Diretor de Estratégia da agência 80 20 Marketing.