No último dia 17, a atriz Letícia Sabatella revelou ter sido diagnosticada como portadora do Transtorno do Espectro Autista (TEA), em entrevista ao Fantástico, da TV Globo. O caso da atriz, que atualmente tem 52 anos, chamou atenção pela condição ter sido descoberta tardiamente. Porém, casos como o da atriz são mais comuns do que se imagina, como explica Filipe Colombini, psicólogo e CEO da Equipe AT. 

“Esse tipo de situação tem sido muito comum justamente pela evolução dos sistemas de avaliação diagnóstica e pelo maior conhecimento da população em torno do autismo”, conta ele. “Esses fatores combinados fazem com que muitas pessoas descubram o autismo somente na vida adulta”, completa. 

O sentimento descrito por Letícia Sabatella sobre o diagnóstico foi, conforme a atriz, de alívio e libertação. “Quem descobre tardiamente o autismo consegue entender diversas dificuldades que teve durante toda a vida e isso, muitas vezes, vem acompanhado por uma sensação de acolhimento, já que a pessoa pode finalmente buscar tratamento adequado e, até mesmo, grupos de apoio”, afirma Colombini. 

“Além disso, existe a perspectiva de um maior autoconhecimento, o que traz consolo, visto que essas pessoas podem ter recebido outros diagnósticos ao longo do tempo que não se encaixavam tanto, causando, até mesmo, diferentes graus de sofrimento e transtornos psiquiátricos relevantes”, afirma o psicólogo.

Foi somente após o diagnóstico de sua filha Clara, de 30 anos, que a atriz começou a desconfiar que algumas características suas também poderiam ser enquadradas dentro do Espectro Autista. “Muitas pessoas passam pela mesma situação de Letícia, que, ao conhecer melhor as características do transtorno, após a detecção do autismo em um filho, acabam enxergando em si alguns daqueles sinais e, com isso, decidem procurar ajuda profissional”, relata Colombini.

Outra questão que reforça o diagnóstico tardio é que, alguns dos sintomas clássicos do TEA são, muitas vezes, confundidos com traços de personalidade e são reforçados pelo mascaramento social, conforme explica Colombini. “Entre eles, vale destacar a dificuldade em  manter relações sociais e,  ainda, questões relacionadas à regulação emocional, além de tendência em manter hiperfocos e comportamentos repetitivos”, diz ele. “O mascaramento social é um tema extremamente importante e pouco discutido, pois as pessoas autistas tendem a se esforçar psicologicamente para serem aceitas na sociedade, aumentando o seu nível de estresse, ansiedade e sofrimento”, complementa o psicólogo.

A avaliação para definir se alguém faz parte do Espectro Autista é realizada pela combinação de avaliações neuropsicológicas e avaliações médicas. “Após fechado o diagnóstico, a pessoa normalmente tem uma melhoria na sua qualidade de vida, graças a um tratamento mais assertivo para sua condição, com suporte psiquiátrico e psicológico”, diz o CEO da Equipe AT. “Porém, é importante lembrar que, apesar da importância do diagnóstico em qualquer idade, quanto mais precoce, o paciente poderá conquistar maior bem-estar e a melhor evolução possível do quadro”, conclui o psicólogo.

Mais sobre Filipe Colombini: psicólogo, fundador e CEO da Equipe AT, empresa com foco em Acompanhamento Terapêutico (AT) e atendimento fora do consultório, que atua em São Paulo (SP) desde 2012. Especialista em orientação parental e atendimento de crianças, jovens e adultos. Especialista em Clínica Analítico-Comportamental. Mestre em Psicologia da Educação pela Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP). Professor do Curso de Acompanhamento Terapêutico do Grupo Interdisciplinar de Estudos de Álcool e Drogas – Instituto de Psiquiatria Hospital das Clínicas (GREA-IPq-HCFMUSP). Professor e Coordenador acadêmico do Aprimoramento em AT da Equipe AT. Formação em Psicoterapia Baseada em Evidências, Acompanhamento Terapêutico, Terapia Infantil, Desenvolvimento Atípico e Abuso de Substâncias.

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