No Dia Nacional de Combate ao Câncer, reumatologista explica que é necessário trazer ao debate os pacientes que já sofrem com doenças pré-existentes, as quais podem desencadear neoplasias ou agravar o quadro
Instituído com o propósito de ampliar o entendimento da população sobre o câncer, principalmente em relação à sua prevenção, o Dia Nacional de Combate ao Câncer (27/11) deve trazer à discussão informações sobre o rastreamento da enfermidade em pacientes reumatológicos. As doenças autoimunes, que constituem distúrbios crônicos, e a utilização de medicamentos imunossupressores podem aumentar a propensão desses pacientes a desenvolverem determinados tipos de tumores.
O doutor Rafael Andreussi, reumatologista na Imuno Brasil, ressalta a relevância da conscientização e do rastreamento de cânceres entre os mais de 15 milhões de brasileiros que enfrentam as doenças reumáticas. Ele enfatiza que esse monitoramento contribui para o diagnóstico precoce e o tratamento efetivo.
Como exemplo, o especialista cita um estudo conduzido ao longo de 13 anos pela Universidade de Toronto, em que pacientes afetados por artrite reumatoide apresentaram um maior risco de desenvolver e falecer precocemente por câncer, comparados às pessoas sem a doença. Provavelmente associado ao estado de inflamação crônica, os portadores de artrite reumatoide manifestaram maior propensão ao surgimento de linfoma e câncer de pulmão, assim como uma prevalência aumentada de doenças cardiovasculares e respiratórias.
Portadores de Lúpus Eritematoso Sistêmico e Síndrome de Sjogren também enfrentam o maior risco de desenvolverem neoplasias hematológicas. Embora a explicação para essa associação ainda seja obscura, a estimulação prolongada de células do sistema imunológico, como os linfócitos B, contribui para o risco de neoplasia. Já entre os pacientes com Esclerose Sistêmica, por sua vez, há maior prevalência de cânceres em pulmão e esôfago, o que requer monitoramento adequado.
Quanto à relação entre o aumento da incidência de cânceres em pacientes que fazem uso de imunossupressores, o doutor explica que tais medicamentos influenciam na atividade das células e do sistema imunológico como um todo e podem deixar o corpo vulnerável ao surgimento de cânceres, sobretudo àqueles associados à presença de agentes infecciosos. Como exemplos, as infecções provocadas pelos vírus das hepatites B e C aumentam o risco de cânceres hepáticos, enquanto o Vírus Epstein–Barr está relacionado ao desenvolvimento de cânceres do sistema linfático. Destaca-se também a importante relação entre as infecções pelo HPV e o surgimento de neoplasias no útero, ânus e orofaringe.
É crucial salientar que a presença de uma doença reumática autoimune e o uso de certos medicamentos em seu tratamento não são suficientes para o desenvolvimento do câncer. Outros fatores, como hábitos de vida, tabagismo, predisposição genética e infecções desempenham papéis significativos no surgimento de neoplasias em pacientes reumatológicos.
Outra preocupação ressaltada pelo especialista é a manifestação de sintomas reumáticos em pacientes com câncer. Neoplasias malignas podem desencadear sintomas musculoesqueléticos, como dores articulares e musculares em graus diversos e inflamações nas articulações, bem como comprometerem nervos, levando ao desenvolvimento de neuropatias. Além disso, terapias voltadas ao combate do câncer podem gerar sintomas semelhantes. Nesse contexto, sempre que um paciente com câncer manifestar sintomas articulares e musculares, um reumatologista deve ser consultado.
Sobre o doutor: Reumatologista na Imuno Brasil, Rafael Andreussi possui residência em Clínica Médica pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) e em Reumatologia pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (HC – FMUSP).