O câncer de reto é doença frequente e a radioterapia é um dos pilares do tratamento, podendo contribuir de modo muito eficaz para seu controle e cura
Os tumores colorretais são os tumores que se originam no cólon (intestino grosso) e no reto (parte final do intestino grosso, localizado logo acima do ânus e canal anal). Com mais de 45 mil novos casos registrados em 2023, segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA), os tumores colorretais representam o segundo tipo de câncer mais comum tanto em homens, quanto em mulheres, no país, excluindo-se os cânceres de pele. Por conta desta alta incidência, este mês (Março Azul Marinho) é dedicado à conscientização sobre câncer colorretal.
Infelizmente a maioria dos casos de câncer de reto é diagnosticada com a doença mais avançada, quando o paciente apresenta, há algum tempo, alteração do hábito intestinal e sangramento nas fezes. O ideal é que os exames de rastreamento, como pesquisa de sangue oculto nas fezes e colonoscopia periódica fossem realizados com mais frequência e assim se diagnosticasse a doença em fases mais iniciais. Após o diagnóstico do tumor de reto, deve-se realizar exames que permitem avaliar a sua extensão local e se a doença já acomete ou não outros órgãos.
No tratamento do câncer de reto pode-se empregar a cirurgia, quimioterapia, radioterapia ou imunoterapia, em combinação ou de maneira isolada, de acordo com o estadiamento da doença, isso é, em que fase a doença foi diagnosticada.
O câncer de reto hoje é uma doença que permite diferentes tipos de tratamento, de acordo com as suas características na ocasião do diagnóstico. Para definição do melhor tratamento, são observadas características clínicas do paciente, como idade e presença de outras doenças, e características do tumor, como sua localização, extensão local, disseminação para outras estruturas ou órgãos, e mais recentemente, suas características imuno-histoquímicas.
No estadio inicial, considerado doença localizada, habitualmente a cirurgia é empregada como principal modalidade terapêutica. Mas, nos casos em que a cirurgia não pode ser realizada, ou na tentativa de se realizar a preservação do reto, a radioterapia é opção curativa, em conjunto com a quimioterapia, principalmente quando a doença se localiza na parte mais distal do reto, ou seja, mais próximo do ânus.
“Nos casos em que se observa que a doença não está restrita à camada muscular da mucosa, com invasão dos tecidos ou vasos ao redor do reto, e que há risco de, ao se realizar a cirurgia, não se ressecar a doença completamente, a combinação de radioterapia e quimioterapia, antes da cirurgia – o chamado tratamento neoadjuvante – pode fazer com a doença torne-se ressecável, favorecendo o maior controle local da doença.” explica a radio-oncologista Stella Sala Soares Lima, membro titular da Sociedade Brasileira de Radioterapia (SBRT), médica do departamento de Radioterapia do Hospital Luxemburgo do Instituto Mario Penna e do Hospital Felício Rocho, em Minas Gerais.
Apenas 5-10% dos tumores de reto apresentam a chamada instabilidade microssatélite, mas embora rara, sua presença permite o uso de imunoterapia, com alta eficácia para controle da doença, permitindo, em alguns casos, a exclusão tanto da cirurgia, quanto da quimioterapia e da radioterapia. Mesmo nos casos mais avançados, a radioterapia pode ajudar a reduzir o tamanho tumoral, favorecendo o controle de dor e de sangramento, sendo habitualmente empregada nesse contexto como importante medida paliativa para alívio dos sintomas.
A radioterapia, no tratamento do câncer de reto, é habitualmente realizada em curso longo, ou seja, em torno de 25 a 30 frações, uma vez ao dia, durante cerca de 25 a 30 dias úteis. A forma mais comum de ser realizada é em associação com alguma quimioterapia, pois assim há a potencialização dos efeitos oncológicos do tratamento. Em casos específicos, principalmente quando a radioterapia é empregada para alívio de sintomas, nas doenças mais avançadas, ela pode ser realizada em curso curto, ou seja, realizada em 5 frações, também diárias, mas com uma dose de radiação por dia mais alta, e por essa razão, sem a quimioterapia concomitante.
Apenas uma equipe médica especializada e altamente treinada no tratamento do câncer de reto é capaz de selecionar o melhor planejamento terapêutico para cada caso. A discussão dos casos clínicos em grupos, os chamados “tumor boards”, é hoje em dia essencial, reforça Stella Sala.
SINTOMAS
– Presença de sangue ou muco nas fezes
– Alteração do hábito intestinal, como diarreia ou constipação intestinal
– Dores abominais ou ao evacuar
– Perda de peso inexplicável
PREVENÇÃO
O mais importante é focar na prevenção da doença, adotando hábitos de vida saudáveis, como alimentação rica em fibra, prática regular de atividade física, e cessação do tabagismo ou do consumo excessivo de álcool. Além disso, recomenda-se a colonoscopia de rastreamento, na população de baixo risco a cada cinco anos, a partir dos 45 anos, com foco no diagnóstico precoce da doença ou de condições pré-malignas. Casos considerados de maior risco, como nos pacientes com familiares com diagnóstico de câncer colorretal, essa prevenção é ainda mais importante e a colonoscopia pode ser necessária em idade mais precoce e com maior frequência. Por isso, é importante procurar um médico para orientação de como se prevenir da doença.