Confiabilidade em jogos e apostas foi tema de pesquisa divulgada pela ENV Media em parceria com o Games Magazine Brasil (GMB); especialista explica resultados
Não é de hoje que parte dos brasileiros se interessa por fazer aquela ‘fezinha’ – e a razão vem da cultura de jogos e apostas ao longo dos anos no País. Com as BETs, divulgadas em eventos esportivos como o futebol, e outros meios de comunicação, o mercado do iGaming e Apostas Esportivas vem se consolidando cada vez mais.
Por outro lado, uma pesquisa realizada pela ENV Media em parceria com o Games Magazine Brasil (GMB) apresentou dados relacionados à percepção de justiça e de confiabilidade dos apostadores em relação ao iGaming. Entre os resultados, baseados em uma pesquisa feita com jogadores brasileiros, 35% dos que apostam acreditam que jogo online é “injusto” ou “muito injusto”. Já 19% dos entrevistados consideram o jogo online “justo” ou “muito justo”.
De acordo com Filipe Senna, sócio do Jantalia Advogados e especialista em Direito de Jogos, isso se dá muitas vezes por uma divergência de informações e conhecimentos em relação aos jogos de fortuna. “É sempre importante destacar que os jogos de fortuna são um meio de entretenimento, e não meio de se ganhar dinheiro sendo jogador ou apostador. Isso acontece em pequenos casos e em uma porcentagem de menos de 5% dos jogadores em um período de 1 ano”.
Definir critérios e levar a compreensão ao apostador de que o jogo tem por finalidade o entretenimento, portanto, é um dos pontos fundamentais para a confiabilidade no setor. Para isso, segundo o especialista, é preciso existir a conscientização do jogador tanto por parte das operadoras, quanto por parte das certificadoras e do próprio poder público.
“Não se trata de uma questão de justiça ou injustiça. É uma premissa dos jogos de fortuna, historicamente e de forma atual também, que os operadores têm uma vantagem natural em relação aos jogadores. Isso é um pressuposto de toda e qualquer operação de cassinos e apostas esportivas, principalmente em vias bancadas como é feito no Brasil, em que, independentemente dos ganhos do jogador, o operador deve pagá-los. Portanto, essa premissa deve ser melhor compreendida pelo público brasileiro dentro de campanhas de marketing, de uma difusão do jogo responsável e de uma informatização adequada desses jogadores e apostadores”, orienta Senna.
Outro dado destacado na pesquisa – e que vai ao encontro da análise – é de que 74% dos entrevistados admitiram não conhecer mecanismos de controle e monitoramento dos jogos. O caminho da regulamentação das apostas, a partir das portarias e regras lançadas especialmente após a sanção da Lei nº 14.790, deverá proporcionar um espaço seguro e de confiabilidade para os apostadores daqui para a frente.
“O que ocorre é que, no mercado regulado que se pretende implementar no Brasil, é necessário que todas as plataformas que pretendem obter licença junto ao Ministério da Fazenda busquem certificação por laboratórios especializados que atestem que o jogo, de fato, é justo, e está dentro dos parâmetros de aleatoriedade, número de vitórias, payout, valores que voltam ao consumidor de forma adequada (RTP) – ou seja, em operadores que pretendem obter licença no Brasil, existe a tendência de que os jogos sejam efetivamente certificados por laboratórios terceiros não vinculados a qualquer uma das partes que definitivamente indicam que um jogo possui os critérios de justiça”, complementa.
Para a certificação ser implementada e otimizada, Senna sugere a apresentação de informações claras na interface de jogo, entre elas, a apresentação das cotas fixas para as eventuais premiações, combinações relativas ao jogo de fortuna online, como tabelas demonstrando todas as possibilidades de vitória e quanto seria o ganho do jogador em relação àquela vitória, e também outras informações como o RTP ou Return to Player – correspondente ao valor apostado pelos jogadores, o que efetivamente volta aos jogadores em termos de premiações.
Influência das mídias sociais na confiabilidade das apostas
Outro problema apresentado pela pesquisa tem relação com o papel das mídias sociais e a propagação de desinformação em relação a jogos de fortuna online. Para o especialista, isso acontece principalmente por conta de uma desinformação alimentada por publicidade, principalmente por redes sociais, que não está de acordo com as normas de autorregulamentação brasileiras, designadas pelo CONAR, tampouco com os critérios apresentados na Lei nº 14.790 e em outras normas de caráter internacional desta indústria.
“Nessa publicidade, é divulgada a obtenção de um lucro garantido com a operação de jogos de Fortuna Online, com a possibilidade de manipulação de resultados, aproveitamento de bugs, que é chamado de bug exploit, quando em tese o jogador se aproveita de uma falha do sistema para ganhar. Muitos desses métodos são amplamente difundidos de maneira falsa com o objetivo simplesmente de enganar o consumidor e fazer com que ele consuma plataformas paralelas e temporárias exatamente com o objetivo de subtrair valores desses consumidores que acreditam poder manipular os jogos, se aproveitar de bugs ou viver exclusivamente de eventuais lucros decorrentes de jogos de fortuna online”, acrescenta Senna.
Fonte:
Filipe Senna – sócio do Jantalia Advogados e mestre em Direito de Jogos pelo Instituto Brasiliense de Direito Público – IDP.