Animais da Agropecuária VR com colares do kit tecnológico InstaBov (Foto: Enio Tavares)
Além de mostrar localização de cada animal na pastagem, sistema que utiliza colares com GPS alerta sobre mudanças de comportamento que podem indicar problemas de saúde. Pesquisadores da Embrapa Cerrados e do Ceia/UFG planejam parceria para desenvolvimento de aplicações com inteligência artificial
Em um cenário de aumento da exigência do mercado internacional pela comprovação da origem “limpa” da carne brasileira e de necessidade de maior eficiência na atividade, pressionada por queda de preços e aumento de custos, a Agropecuária VR, de Goiânia (GO), acaba de dar início a um projeto inovador que promete render frutos nas duas direções. A fazenda está implantando um sistema especial de rastreamento de todos os seus 200 animais da raça nelore, puros de origem (PO).
Baseado em GPS (Global Positioning System), o sistema batizado de InstaBov pela startup gaúcha de mesmo nome, chamou a atenção de pesquisadores da Embrapa Cerrados e da Universidade Federal de Goiás (UFG). Eles acreditam que a tecnologia abre possibilidades para novas aplicações de inteligência artificial (IA) que podem incrementar a produtividade na pecuária de corte.
No início de junho, técnicos da empresa gaúcha começaram a instalar os equipamentos que compõem o kit de operação do InstaBov nos animais da Agropecuária VR. Os trabalhos foram acompanhados pelo proprietário do rebanho, o pecuarista Victor Ribeiro; pelo CEO da InstaBov, Fernando Moraes; pelo pesquisador Eduardo Eifert, da área de nutrição de ruminantes da Embrapa Cerrados; pelo professor e pesquisador Iwens Sene, do Instituto de Informática e do Centro de Excelência em Inteligência Artificial (Ceia) da UFG; e por pecuaristas e representantes de empresas parceiras.
Na oportunidade, 20 vacas selecionadas receberam colares com transmissores GPS. Foi instalada também, em área estratégica da fazenda, uma antena de transmissão de dados que cobre um raio de 10 quilômetros. Os técnicos da InstaBov fizeram demonstrações do sistema. No início de julho, eles voltam a Goiânia para completar a colocação dos colares em todos os animais do plantel e realizar os ajustes necessários.
IA na pecuária“Além de pecuarista, tenho formação na área de tecnologia e acredito que esse é um caminho sem volta. Temos que utilizar cada vez mais a tecnologia para atingir melhores resultados. Assim como já estamos vendo em outras áreas, a IA vai impactar fortemente a pecuária e quem estiver preparado certamente vai colher o lucro disso lá na frente”, argumenta o pecuarista Victor Ribeiro, que acredita ser o primeiro do Centro-Oeste a rastrear 100% do seu rebanho de corte.
Para o dono da Agropecuária VR, o mais importante na sua atividade hoje é cuidar da saúde do animal, já que cada exemplar do plantel tem alto valor de mercado. Neste sentido, afirma, o InstaBov se mostra uma ferramenta estratégica porque mostra, em tempo real, a localização, o trajeto percorrido, o comportamento e outros dados importantes para a gestão do rebanho e da propriedade como um todo. “É possível saber se tem algo anormal, se a vaca está em cio, se o touro está cobrindo a pasto”, exemplifica ele.
Mestre em Ciência da Computação, Ribeiro mantém ligação com a academia e por isso enxerga outro lado positivo no sistema: “Além de um controle muito maior do patrimônio, o InstaBov permite novas pesquisas com base nos dados que o sistema coleta”. É justamente esta possibilidade que atrai o interesse dos pesquisadores da Embrapa Cerrados e da UFG.
PrognósticosCoordenador de projetos do Ceia/UFG, o professor Iwens Sene acredita que, a partir dos dados capturados pelo InstaBov, é possível usar a inteligência artificial não apenas para monitorar a saúde do animal em tempo real, mas também para prever problemas de saúde. “O dispositivo consegue monitorar e trazer dados. Vamos possivelmente encampar um projeto usando IA para entender melhor o comportamento do animal e com isso pensar na saúde, no ganho de peso e na parte financeira do empreendimento”, antecipa.
O interesse científico é compartilhado pelo pesquisador Eduardo Eifert, da Embrapa Cerrados. Doutor em Nutrição de Ruminantes, Eifert considera que os dados produzidos pelo monitoramento por GPS podem, por exemplo, gerar novas práticas de manejo tanto de animais quanto de pastagens. “Passa a ser uma ferramenta a mais de pesquisa sobre comportamento animal, podendo cobrir aspectos que outras ferramentas não cobrem, como o impacto do sombreamento no gado a pasto. Quanto tempo esse animal passa debaixo da sombra? Qual o reflexo disso na produtividade?”, questiona ele, sugerindo que as novas pesquisas podem responder estas perguntas.
Informação 24 horasCEO da startup gaúcha InstaBov, Fernando Moraes define o sistema como uma ferramenta para “entregar informação o tempo inteiro ao pecuarista”. Moraes brinca que, com o InstaBov, em vez de acordar de manhã e montar no cavalo “pra contar gado” (verificando se houve fuga, parto, adoecimento, ataque de predador ou furto), o gestor do rebanho pode simplesmente pegar o celular e ter todos os dados em mãos. “É como se ele tivesse uma pessoa 24 horas por dia de olho nos animais”, resume.
De acordo com Moraes, os colares instalados nos animais são recarregados por energia solar e têm vida útil de cinco anos. Dotados de GPS e acelerômetro, os equipamentos enviam sinais para a antena colocada na fazenda e essa antena, por sua vez, remete os dados para a nuvem. Dali em diante, as informações ficam disponíveis ao gestor do rebanho por computador, tablet ou celular.
Outra funcionalidade do InstaBov está ligada ao mapeamento da propriedade. Ele permite aprimorar a rotação de pastagens, por exemplo. “É possível saber, por um sistema de calor, onde tem pasto faltando e onde tem pasto sobrando, e remanejar os animais de forma a aproveitar melhor os recursos, tornando a fazenda mais rentável”, explica Moraes.
Pecuarista Victor Ribeiro (centro) e pesquisadores Iwens Sene (Ceia/UFG) e Eduardo Eifert (Embrapa Cerrados): sistema possibilita entender melhor comportamento do gado de corte

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