Caso da velocista norte americana Sha’Carri Richardson, desclassificada das Olimpíadas de Tóquio por uso de THC, substância presente na cannabis, trouxe o debate à tona; tratamento com canabidiol (CBD), liberado por agência antidoping, auxilia na recuperação de atletas profissionais e amadores com ação anti-inflamatória substancial

A final dos 100m rasos feminino acontece no próximo sábado (3), às 21h20, horário de Brasília. Uma das provas mais aguardadas das Olimpíadas de Paris deve contar com a presença da velocista norte-americana Sha’Carri Richardson, que faz sua estreia em jogos olímpicos após ser desclassificada da competição de Tóquio – depois de vencer a seletiva de seu país com o tempo de 10.86 segundos, a velocista foi suspensa por um mês após testar positivo para THC (tetra-hidrocarbinol), substância presente na cannabis, o que a fez perder todo o período dos jogos no Japão. 

O caso da atual campeã mundial, que declarou que fez uso de cannabis para lidar com o luto causado pela morte da mãe, reacendeu o debate sobre a ação da cannabis em atletas de alto rendimento e o que pode ou não ser considerado doping e apresentar vantagens esportivas. Após o ocorrido, a Agência Mundial Antidoping (WADA) decidiu manter o THC na lista de substâncias proibidas – o canabidiol (CBD), que não tem propriedades psicoativas, é liberado. Para a médica Dra Mariana Maciel, não há comprovação de qualquer vantagem esportiva no uso da substância que desclassificou a velocista. 

“É possível afirmar com segurança que o THC oferece benefícios terapêuticos para a recuperação de atletas. Entretanto, durante os jogos, sejam individuais ou coletivos, não apresentam ganhos. O que parece é que pode, inclusive, ser prejudicial”, diz a especialista à frente da Thronus Medical, farmacêutica canadense. “O THC pode ter impacto na coordenação motora, afetando a tomada de decisão e aumentando o tempo de reação”, explica. “Além disso, a depender do atleta, pode causar confusão, sono excessivo, fadiga, dificuldade de concentração e ansiedade, além de agir na percepção de esforço, o que pode ser prejudicial”. 

O tratamento com o CBD, entretanto, pode apresentar “vantagens indiretas”, como explica a doutora Mariana. “Atletas poderiam se beneficiar deste canabinoide para administrar a dor, a inflamação e os processos de inchaço associados às lesões, sendo esta uma alternativa terapêutica aos anti-inflamatórios não esteroides, opióides ou corticosteroides”. A substância altera parâmetros cardiovasculares, temperatura  corporal, e funções  psicomotoras e psicológicas¹. Tratamentos à base de CBD têm efeitos anti-inflamatórios e imunomoduladores substanciais. “É preciso reforçar que a inflamação é parte integrante do reparo e da regeneração, mas a inflamação excessiva pode contribuir para uma dor muscular prolongada e retardar a recuperação funcional”. 

Cannabis e o luto: há indicação?

O caso da atleta norte-americana ajudou a levantar a discussão sobre o uso de substâncias derivadas da planta cannabis sativa para auxiliar no processo de luto pela perda de uma pessoa querida. A pergunta que muitos se fazem é se há indicações clínicas.

E a resposta é sim, há indicações médicas. No caso do canabidiol (CBD), o composto possui ações benéficas para tratamentos para depressão, ansiedade, transtornos do humor e insônia², entre outros quadros importantes na elaboração do processo de luto. “Muito embora seu mecanismo de ação não esteja totalmente desvendado, muitos estudos mostram suas ações benéficas em tratamentos de ansiedade, estresse, humor, psicose e sono³”, diz a médica especialista. Isso ocorre pelo modo que a substância atua na modulação dos receptores CB1, em abundância no sistema nervoso central”, completa. 

Já o THC, as respostas podem variar amplamente entre indivíduos. “Enquanto alguns podem encontrar alívio ou conforto, outros podem experimentar um aumento da ansiedade, que podem complicar o processo de luto. Por isso a importância de buscar um especialista médico”, pontua Dra. Mariana.

THC é liberado na NBA

Sobre o futuro, a especialista não garante a manutenção do THC na lista de substâncias proibidas da Agência Mundial Antidoping. “As leis mudam, as percepções sociais sobre a substância também. É possível que, no futuro, a gente acompanhe mudanças na política antidoping”, diz a Dra. Mariana Maciel. Vale lembrar que algumas competições esportivas independentes, como a NBA e a MLB, possuem seus próprios sistemas antidopagem e são, em geral, mais permissivos – as ligas não consideram o THC como doping, por exemplo. 

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