PL dispõe sobre a comercialização, importação e propaganda de vapes; Uso de gadgets aumentam mais de três vezes o risco de experimentação do cigarro convencional e mais de quatro vezes as chances de evolução para o consumo de tabaco, principais fatores ligados à incidência de tumores torácicos
A Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), deverá votar nesta terça-feira (20), às 10h no Senado, a respeito da regulamentação dos cigarros eletrônicos no Brasil. O Projeto de Lei 5.008/2023 dispõe sobre a comercialização, importação e também a propaganda desses dispositivos, proibidos no país desde 2009. No entanto, a PL enfrenta a aversão de diversas instituições de saúde, que, lideradas pela Associação Médica Brasileira (AMB), manifestaram por meio de comunicado oficial serem contrárias à essa aprovação.
Entre os pontos centrais em debate, está a percepção de que regulamentar o uso do vape, entre outros aspectos, pode abrir caminhos para sua maior aceitação e consumo, especialmente entre os jovens, que estão mais vulneráveis aos seus efeitos prejudiciais. Segundo a AMB, um único vape libera índices de nicotina no organismo equivalentes a 20 cigarros, além de vaporizar substâncias potencialmente cancerígenas, representando uma ameaça relevante ao sucesso das políticas públicas e de conscientização sobre os perigos do cigarro – principal fator evitável de risco para o desenvolvimento de diversas doenças cardiorrespiratórias e maior causador de câncer de pulmão. Atualmente, o país tem menos de 10% da população tabagista, um dos índices mais baixos do mundo.
“Os vapes são produtos novos, temos pouco conhecimento sobre os seus efeitos a longo prazo e, o que estamos observando desde já, são casos devastadores no pulmão, como injúria pulmonar, queimaduras, piora da asma e da função pulmonar, entre outros. Precisamos recuperar a frente, fomos pioneiros em diversas delas e tivemos sucesso em relação ao tabaco. Temos que ir nessa linha, com campanhas de informação voltadas para o público alvo e pensar políticas para diminuir esse consumo, além de apoio ao tabagista”, explica a oncologista Mariana Laloni, diretora médica técnica da Oncoclínicas&Co.
A exemplo disso, um levantamento realizado pela Inteligência em Pesquisa e Consultoria (IPEC) aponta que 2,2 milhões de adultos (1,4%) afirmaram ter consumido os dispositivos eletrônicos para fumar até 30 dias antes da pesquisa. Em 2018, o índice era de 0,3% entre a população, menos de 500 mil consumidores. Nos Estados Unidos uma em cada cinco pessoas (20%) entre 18 e 29 anos usam produtos vape, segundo o National Youth Tobacco Survey (NYTS).
“Nós vemos um aumento gradual entre crianças, adolescentes e jovens, especialmente de usuários e dependentes em nicotina. Os vapes têm especial apelo para esse público, pois há um direcionamento, seja nas embalagens mais modernas, hi-tech, ou ainda com sabores para atrair essa faixa etária. Temos um temor de sentirmos os efeitos daqui a 10 anos, que é quando as doenças, como câncer de pulmão, aparecem. Precisamos combater, mantendo proibido o seu uso”, reforça William Nassib William Junior, líder nacional da especialidade tumores torácicos da Oncoclíncias&Co.
Ele afirma que a comunidade científica já sinaliza que há indícios de que podem ser tão ou mais maléficos que o cigarro tradicional, que comprovadamente causa câncer de pulmão, entre outros tipos de tumores e doenças. Isso significa que, assim como ocorreu no passado com as gerações que tinham o hábito de fumar um símbolo de charme e status, poderemos ter nas próximas décadas uma onda de neoplasias pulmonares desencadeada pelo consumo de vapes.
A preocupação é ainda justificada pela Organização Mundial de Saúde (OMS), que também vem alertando para os males do uso da nicotina em pessoas menores de 20 anos, e sinaliza que adolescentes que usam esses dispositivos têm mais riscos de se tornarem fumantes na vida adulta. Globalmente, segundo relatório divulgado em 2021 pela entidade, 84 países não contam com quaisquer medidas contra a proliferação deste tipo de produto. Outros 32 países proíbem a venda desses vapes e 79 adotaram pelo menos uma medida para limitar seu uso, como a proibição da propaganda.
Os médicos reforçam que os dispositivos eletrônicos estão proibidos no Brasil desde 2009, mas sua comercialização segue crescente – e sem qualquer controle de órgãos competentes. E esse é um ponto que não deve ser negligenciado. “O consumo está aumentando consideravelmente, particularmente entre adolescentes e jovens adultos. Já temos observado impactos adversos à saúde, incluindo casos fatais, sobretudo devido a inflamações pulmonares, conforme indicam relatórios clínicos internacionais”, alerta Mariana Laloni.
Cigarro eletrônico também vicia
O consumo de dispositivos eletrônicos vai na direção oposta do que vinha ocorrendo com o cigarro: se em 2000, 30% dos brasileiros eram tabagistas, esse índice chegou a 9% este ano, um dos menores do mundo. Em contrapartida, com a adesão das novas gerações ao uso de cigarros eletrônicos, esses índices podem voltar a crescer drasticamente. O motivo é explicado pelo Instituto Nacional do Câncer (INCA), que realizou em 2021 um estudo que indica que eles também aumentam mais de três vezes o risco de experimentação do cigarro convencional e mais de quatro vezes as chances de evolução para o consumo de tabaco. Em sua análise, o levantamento reforça que esses gadgets acabaram se tornando uma nova porta de entrada para o uso do cigarro tradicional para não tabagistas.
E mais um fator preocupante e grave apontado pelo líder nacional da especialidade de tumores torácicos da Oncoclínicas é o poder viciante dos cigarros eletrônicos. Alguns podem conter nicotina, correspondente a 5 maços de cigarro comum. “A nicotina em si não é fator de risco para o câncer, mas é ela que vicia. Ou seja, uma pessoa que consome esse produto pode ficar viciada ainda mais rápido e, inclusive, migrar para o cigarro tradicional. O apelo desses dispositivos está muito ligado à forma moderna de gadgets. Mas é um perigo para a saúde e assusta o fato de que não sabemos o que pode acontecer a longo prazo”, enfatiza William William.
Ele explica que o cigarro eletrônico vaporiza um líquido, às vezes, saborizado, outro ponto de atração para os mais jovens. “Em teoria, há alguns estudos, em ambientes controlados e com as substâncias também bem dosadas, em que os e-cigarros são menos nocivos à saúde e ajudam quem quer parar de fumar. Mas essa não é a realidade que se vê. É importante ressaltar que não é verdade a ideia de que os vapes vendidos contêm uma quantidade de ‘ingredientes’ danosos muito inferior ao do cigarro tradicional. Mesmo sem contar com itens como o tabaco em sua composição, esses dispositivos eletrônicos possuem outros elementos que podem ser altamente prejudiciais”, diz.
Comece uma nova vida hoje
De acordo com a OMS, o tabaco ainda mata mais de 8 milhões de pessoas no mundo. No Brasil, o consumo direto e a exposição passiva são responsáveis por 156 mil mortes por ano. A entidade indica ainda que os casos de câncer, de forma geral, devem aumentar progressivamente até 2050 – no país deve dar um salto de mais de 70%, chegando a uma marca próxima de 1 milhão de novos diagnósticos da doença – o que demanda um trabalho de conscientização cada vez maior sobre a importância de erradicar seus principais causadores, como é o caso do tabagismo.
Para apoiar na conscientização sobre os riscos dos cigarros nas suas diferentes formas e modalidades, ao longo do mês de Agosto, estará no ar a campanha Cuidar sem Limites da Oncoclínicas&Co. A ação, que traz como mensagem central “0% de fumaça é cuidar 100% da saúde”, promove conteúdos informativos e estimula a participação em um programa de acompanhamento por 21 dias para quem deseja abandonar o vício.
Com ativações em redes sociais, ambientes físicos e anúncios nas grandes mídias, a iniciativa tem por objetivo incentivar a cessação do tabagismo, convidando fumantes a experimentarem três semanas sem consumir cigarros e, assim, sentir os efeitos positivos à saúde. Vale lembrar que abandonar o cigarro pode reverter efeitos nocivos que levam ao câncer, no caso de quem não tem a doença, e também favorecer amplamente pacientes oncológicos tanto na resposta ao tratamento quanto na qualidade de vida.
Entenda os benefícios de deixar fumar:
- Em 20 minutos: a pressão arterial e a frequência do pulso voltam ao normal.
- Em 2 horas: não há mais nicotina circulante no sangue
- Em 8 horas: os níveis de monóxido de carbono no sangue chegam aos valores normais e o nível de oxigênio aumenta.
- Em 24 horas: os pulmões já funcionam melhor, e os brônquios começam a limpar os resíduos deixados pelo fumo.
- Em 48 horas: o olfato já percebe melhor os cheiros e o paladar já degusta melhor a comida.
- De 2 semanas a 3 meses: a circulação sanguínea melhora consideravelmente. Caminhar torna-se mais fácil e a função pulmonar melhora em até 30%.
- Em 1 ano: o risco de doenças ligadas a males do coração, como infarto, cai pela metade.
- Em 5 anos: menor risco de acidente vascular cerebral (AVC). O risco de infarto do miocárdio e morte por ataque cardíaco se aproxima daquele de quem nunca fumou.
- Em 10 anos: o risco de sofrer um infarto será igual ao de quem nunca fumou. Redução dos riscos de câncer de boca, garganta, esôfago, bexiga, rim e pâncreas.
- Em 15 anos: o risco de desenvolver câncer de pulmão pode igualar-se aos dos não fumantes.
Impactos para saúde financeira
Além dos efeitos diretos à qualidade de vida da população, a redução do número de fumantes nas últimas décadas também contribuiu significativamente para a diminuição dos custos públicos relacionados às doenças causadas pelo tabagismo. Portanto, o retrocesso no combate ao fumo devido ao aumento do uso de cigarros eletrônicos representa outra ameaça que não pode ser ignorada. Um estudo da Escola de Enfermagem da Universidade da Califórnia, em São Francisco, publicado na revista Tobacco Control, indicou que esses dispositivos tecnológicos geram um custo de aproximadamente US$ 15 bilhões (cerca de R$ 75 bilhões) por ano em gastos com saúde nos EUA.
“O consumo de vapes impacta diretamente a qualidade de vida e o bem-estar das pessoas, refletindo no sistema de saúde como um todo, que precisa estar preparado para lidar com um maior número de doenças causadas por esse hábito prejudicial. No Brasil, ainda não temos estudos robustos sobre esses impactos financeiros, mas com o aumento do uso desses dispositivos eletrônicos, podemos presumir que os valores serão igualmente significativos, em linha com o que se observa nos EUA”, comenta William William.
Vale lembrar que o fumo continua sendo a principal causa de câncer de pulmão no mundo. E não só desse tipo de tumor: em 2023, segundo dados do INCA, 73.500 pessoas foram diagnosticadas com algum tipo de câncer causado pelo tabagismo no Brasil, e 428 pessoas morrem diariamente por conta do vício. A entidade aponta ainda que mais de 156 mil mortes poderiam ser evitadas anualmente se o tabaco fosse eliminado.
Em 80% dos casos de câncer de pulmão, os pacientes eram fumantes ou ex-fumantes. “Todo ano, cerca de dois milhões de pessoas são diagnosticadas com câncer de pulmão ao redor do globo. Quem fuma tem de 20 a 30 vezes mais chances de desenvolver esse tipo de tumor, pois as substâncias químicas presentes no cigarro danificam e causam mutações no DNA das células pulmonares, transformando-as em células malignas”, explica o especialista.
O hábito de fumar também aumenta o risco de, pelo menos, outros 12 tipos de câncer: bexiga, pâncreas, fígado, colo do útero, esôfago, rim e ureter, laringe, cavidade oral, faringe, estômago, cólon e leucemia mieloide aguda. Além disso, o tabagismo está associado a formas mais graves de infecção pelo vírus da Covid-19.
“Não sabemos até que ponto os vapes e cigarros eletrônicos se equiparam ou superam os danos causados pelo cigarro convencional. Mas a crença na ‘fumaça limpa’ é infundada. É necessário um trabalho ativo de conscientização da população para que não vejamos os mesmos efeitos negativos do tabagismo”, finaliza Mariana Laloni.
Para saber mais sobre o tema e da campanha “Se parar pra pensar, você para de fumar” da Oncoclínicas&Co, acesse www.grupooncoclinicas.com e acompanhe as postagens nas redes sociais.
Sobre a Oncoclínicas&Co
A Oncoclínicas&Co. – maior grupo dedicado ao tratamento do câncer na América Latina – tem um modelo especializado e inovador focado em toda a jornada do tratamento oncológico, aliando eficiência operacional, atendimento humanizado e especialização, por meio de um corpo clínico composto por mais de 2.700 médicos especialistas com ênfase em oncologia. Com a missão de democratizar o tratamento oncológico no país, oferece um sistema completo de atuação composto por clínicas ambulatoriais integradas a cancer centers de alta complexidade. Atualmente possui 145 unidades em 39 cidades brasileiras, permitindo acesso ao tratamento oncológico em todas as regiões que atua, com padrão de qualidade dos melhores centros de referência mundiais no tratamento do câncer.
Com tecnologia, medicina de precisão e genômica, a Oncoclínicas traz resultados efetivos e acesso ao tratamento oncológico, realizando aproximadamente 635 mil tratamentos nos últimos 12 meses. É parceira exclusiva no Brasil do Dana-Farber Cancer Institute, afiliado à Faculdade de Medicina de Harvard, um dos mais reconhecidos centros de pesquisa e tratamento de câncer no mundo. Possui a Boston Lighthouse Innovation, empresa especializada em bioinformática, sediada em Cambridge, Estados Unidos, e participação societária na MedSir, empresa espanhola dedicada ao desenvolvimento e gestão de ensaios clínicos para pesquisas independentes sobre o câncer. A companhia também desenvolve projetos em colaboração com o Weizmann Institute of Science, em Israel, uma das mais prestigiadas instituições multidisciplinares de ciência e de pesquisa do mundo, tendo Bruno Ferrari, fundador e CEO da Oncoclínicas, como membro de seu board internacional. Além disso, a Oncoclínicas passou a integrar a carteira do IDIVERSA, índice recém lançado pela B3, a bolsa de valores do Brasil, que destaca o desempenho de empresas comprometidas com a diversidade de gênero e raça.