Desde março usando a planta no tratamento do filho de seis anos, a funcionária pública Raphaela Ferreira Sandim, vê melhora substancial na qualidade de vida da criança

Até um ano e dez meses, João Pedro teve desenvolvimento normal e até começou a engatinhar cedo para as crianças de sua idade. Quando o sono começou a ficar desregulado, os choros sem motivo aparente se intensificarem, a fala não veio e a irritação a muito estímulo começou a ficar aparente, sua mãe, funcionária pública Raphaela Ferreira Sandim, ligou o alerta e resolveu procurar uma explicação. “Ele também começou a andar na ponta dos pés e os médicos diziam que até os dois anos isso deveria melhorar, mas isso não aconteceu. Na busca pelo diagnóstico correto, ouvi muitos profissionais dizendo que era normal o que estava acontecendo”, conta Raphaela, que vive hoje em Mogi das Cruzes, interior de São Paulo.

A confirmação do autismo veio após o neuropediatra descartar outras questões neurológicas. Foi quando a mãe optou por começar a intervenção precoce em busca de uma melhor qualidade de vida para a criança e a atenuação de sintomas que causam tanto desconforto aos pacientes.

A partir daí, Raphaela começou a pesquisar e estudar mais sobre o Transtorno do Espectro Autista (TEA). “Sou mãe solo e tenho uma rotina muito puxada. Não tive tempo de viver o luto do autismo e nem de chorar pelo diagnóstico, o que acontece em muitas famílias. Precisei agir logo que tive a confirmação”, lembra.

João Pedro convive com o nível 3 de suporte, é não verbal, tem TDHA e tem DI (deficiência intelectual). Após um longo período utilizando as medicações tradicionais para o transtorno, Raphaela e a neuropediatra que acompanha seu filho resolveram usar a cannabis em busca de melhores resultados. “Os remédios estavam deixando o João muito irritado, não estava vendo evolução e busquei uma alternativa segura para o tratamento dele. Foi quando conheci o canabidiol, e está dando muito certo, mais do que com as medicações comuns que ele utilizava anteriormente”, relata a mãe.

Desde março, duas vezes por dia, ela administra algumas gotas de um medicamento hidrossolúvel (ou seja, não é óleo) à base de cannabis em baixo da língua de João, de acordo com a indicação da médica prescritora. A melhora com o uso do Bisaliv, medicamento canadense, veio rápido e entre os ganhos estão sendo vistos com o foco maior nas atividades da escola e da terapia, maior compreensão dos comandos e interesse por novos tipos de comida e brinquedos. A socialização na escola também avançou e hoje João Pedro brinca e interage com outras crianças de uma forma que antes não conseguia.

Outro ponto importante na melhora tem sido a diminuição das estereotipias, que são caracterizadas por repetições motoras ou verbais contínuas, que duram um certo período de tempo e pode ocorrer em várias ocasiões, não percebidas pelo indivíduo.

“Se tivéssemos mais informação sobre uso da cannabis no autismo, a vida das crianças e famílias seria mais leve. Meu apelo é que quebrem o preconceito contra a cannabis, pois ele existe por conta da falta de conhecimento e informação. Hoje meu filho é mais alegre graças a introdução do tratamento com a planta”, diz Raphaela.

Autismo e cannabis medicinal

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), uma a cada 100 crianças apresenta o diagnóstico de autismo em algum dos 3 níveis reconhecidos e estudados. O TEA também é apontado como um problema de saúde pública mundial pelo órgão. Pesquisas mais recentes do Centro de Controle e Prevenção de Doenças CDC¹, apontaram prevalência de 1 em 36 crianças de 8 anos.

Atualmente, o uso do CBD, ou canabidiol, tem se mostrado uma opção segura para as famílias que buscam um maior equilíbrio na vida do paciente. O canabidiol tem possíveis indicações para o tratamento de autismo, ansiedade e depressão, sintomas esses que influenciam na intensidade das estereotipias.

“É importante ressaltar que para o diagnóstico preciso, seguro e eficaz é necessário manter o acompanhamento médico. Ao desmistificar o autismo e promover a aceitação, abrimos caminho para uma sociedade mais inclusiva, onde a diversidade de habilidades e perspectivas é valorizada”, explica Mariana Maciel, médica especialista em Medicina Canabinoide e co-fundadora da Thronus Medical.

Após o uso do CBD no tratamento de João Pedro, a mãe Rafaela conseguiu uma melhor qualidade de vida para a criança e até mesmo um alívio para sua pesada rotina diária de tratamento com fonoaudiologia, terapia ocupacional e psicomotricidade e psicoterapia.

“O CBD possui um amplo potencial terapêutico, incluindo ação anticonvulsivante, ansiolítica, neuroprotetora, anti-inflamatória, entre outras. O uso nos acompanhamento do autismo tem sido cada vez mais abordado, uma vez que eficácia é identificada e a melhora de alguns padrões impostos pelo transtorno são inegáveis”, finaliza a médica.

¹https://www.cdc.gov/autism/data-research/index.html

 

Raphaela e João Pedro 

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