Em um mundo moldado pela tecnologia e redes sociais, a inteligência artificial surge como a chave para previsões eleitorais mais precisas, desafiando métodos tradicionais e enfrentando resistência do mercado.
As pesquisas eleitorais, essenciais para compreender o cenário político e prever resultados, enfrentam desafios significativos em um mundo onde a tecnologia avança rapidamente e as redes sociais moldam o comportamento dos eleitores. Recentemente, durante minha participação no programa “Linha de Frente” da Jovem Pan News, em São Paulo, discuti a importância de atualizar as metodologias de pesquisa, destacando a superioridade da inteligência artificial (IA) sobre os métodos tradicionais e o impacto transformador das redes sociais.
Tradicionalmente, as pesquisas eleitorais se baseiam em métodos quantitativos como entrevistas telefônicas e presenciais. Embora eficazes no passado, esses métodos agora enfrentam limitações devido à crescente desconfiança pública, baixa taxa de resposta e dificuldades em alcançar amostras representativas. Nesse contexto, a inteligência artificial surge como uma solução inovadora, capaz de processar grandes volumes de dados em tempo real, identificar padrões ocultos e prever comportamentos eleitorais com maior precisão. As técnicas de aprendizado de máquina, por exemplo, permitem ajustar modelos preditivos com base em dados recentes, tornando as previsões mais dinâmicas e precisas.
Nos últimos anos, os resultados das pesquisas eleitorais têm se mostrado cada vez mais distantes da realidade, com erros crescentes que comprometem a precisão das previsões e, consequentemente, a credibilidade dos institutos de pesquisa. Esse descompasso pode ser atribuído a uma série de fatores, incluindo metodologias ultrapassadas que não conseguem captar a complexidade do comportamento do eleitor moderno. Além disso, a influência das redes sociais e a formação de bolhas informativas dificultam a obtenção de amostras verdadeiramente representativas. Como resultado, as previsões falham em refletir a diversidade de opiniões e mudanças rápidas no cenário político, levando a um ceticismo crescente por parte do público em relação aos dados apresentados. Essa perda de confiança destaca a necessidade urgente de revisão e modernização das abordagens utilizadas pelos institutos de pesquisa.
Além disso, a IA permite uma análise mais detalhada do eleitorado, identificando tendências em subgrupos populacionais que podem passar despercebidos por metodologias tradicionais. Isso é especialmente relevante em um ambiente político fragmentado, onde nichos específicos de eleitores podem influenciar significativamente os resultados.
Paralelamente, as redes sociais transformaram a forma como os indivíduos consomem informações e interagem com o conteúdo político. Elas criam “bolhas” informativas, expondo os usuários principalmente a opiniões que reforçam suas crenças existentes. Esse fenômeno, que chamo de “eletrolise social”, apresenta um desafio para as pesquisas eleitorais, pois essas bolhas são difíceis de serem medidas e compreendidas por métodos tradicionais. A análise de dados de redes sociais através da IA pode oferecer insights valiosos sobre essas bolhas, identificando tópicos de interesse, sentimentos predominantes e possíveis influenciadores dentro de diferentes comunidades online.
As bolhas informativas nas redes sociais são formadas pelo algoritmo das plataformas, que personaliza o conteúdo exibido para cada usuário com base em suas interações passadas, interesses e preferências. Esse processo cria um ambiente em que os indivíduos são expostos predominantemente a informações e opiniões que corroboram suas próprias visões de mundo, reforçando crenças existentes e limitando a exposição a perspectivas divergentes. Como resultado, essas bolhas dificultam o diálogo entre diferentes grupos e polarizam ainda mais o debate público. Para as pesquisas eleitorais, essa dinâmica representa um desafio significativo, pois torna mais complexo captar a diversidade de opiniões e comportamentos do eleitorado, uma vez que as bolhas podem distorcer a percepção da realidade política e social. A inteligência artificial pode ajudar a mapear e analisar essas bolhas, oferecendo uma visão mais abrangente e precisa das dinâmicas sociais e políticas em jogo.
Embora este posicionamento cause desconforto nos profissionais da área de pesquisas, a reformulação das metodologias é imperativa para refletir a complexidade do cenário político atual. A integração da inteligência artificial oferece uma vantagem significativa, permitindo análises mais precisas e adaptáveis. Compreender o impacto das redes sociais e suas bolhas informativas é crucial para captar a verdadeira essência do eleitorado moderno. A adoção de novas tecnologias e abordagens metodológicas não apenas aprimora a precisão das pesquisas, mas também fortalece a confiança pública nos resultados apresentados. À medida que continuamos a navegar em um mundo cada vez mais digital e interconectado, é essencial que as práticas de pesquisa evoluam para acompanhar essas mudanças.
Marcelo Senise – Idealizador do IRIA – Instituto Brasileiro para a Regulamentação da Inteligência Artificial, Sócio Fundador da Comunica 360º e CEO da CONECT.IA, Sociólogo e Marqueteiro, atua há 35 anos na área política e eleitoral, especialista em comportamento humano, e em informação e contrainformação, precursor do sistema de análise em sistemas emergentes e Inteligência Artificial.