Boulos tem chances de se consolidar como liderança à esquerda

Fonte: Fábio Andrade, cientista político e professor do curso de Relações Internacionais da ESPM

As eleições municipais de 2024 mostraram a força dos partidos de centro-direita e a aproximação com as classes mais populares (maioria no país). É o que destaca Fábio Andrade, cientista político e professor do curso de Relações Internacionais da ESPM. “Seja do ponto de vista de organização partidária, de conseguir vender propostas ou de uma perspectiva em demonstrar maior alinhamento com as camadas populares no Brasil. Quem conseguiu fazer bem esse papel? Em sua maioria, os partidos de centro-direita e um partido de extrema direita, o PL.”

Para o professor, a esquerda, sobretudo o PT, sai maior do que saiu nas eleições de 2020, mas ainda pouco para quem atualmente ocupa a presidência da república e para quem já esteve em posições importantes em prefeituras de capitais no nordeste. “É uma melhora muito pequena em relação à eleição anterior, vai contribuir para endossar hipóteses de que há um distanciamento da esquerda em relação às classes populares.”

Pensando em projeções futuras para as próximas eleições, o professor destaca que, de acordo com a literatura, os prefeitos eleitos dois anos antes fornecem uma base importante com algum poder de previsibilidade para a composição do Congresso. “Neste sentido, dois partidos políticos trabalham muito com essa projeção. O PSB, que não deve lançar candidatura presidencial ou apoio a alguém, mas que deve ter uma posição de neutralidade e lançar candidatos ao cargo de Deputado Federal, porque mira alcançar a presidência da Câmara com um número grande de deputados. E o PL deve adotar a mesma estratégia, mas com esperança de reversão do quadro de inegibilidade do Bolsonaro.”

Em São Paulo, com a vitória de Ricardo Nunes (MDB), o professor destaca que Guilherme Boulos (PSOL) termina com um resultado muito próximo do que foi há quatro anos. “Além dele enfrentar a máquina (o atual prefeito), ele enfrentou também o governador do estado de São Paulo, que basicamente foi o grande fiador do Ricardo Nunes durante a campanha.” Para Fábio Andrade, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, tomou uma medida que pode render complicações junto à Justiça Eleitoral ao sugerir que houve uma ordem por parte do crime organizado para votar no Guilherme Boulos. “Não consta que ele tenha notificado o TRE, tampouco Polícia Federal e Ministério da Justiça. Mas acredito que tenha um cálculo de reforço da sua imagem junto a eleitores de direita e extrema direita.”

O professor de Relações Internacionais da ESPM reforça ainda que há chances para Guilherme Boulos ser uma nova liderança à esquerda. “Vai demorar um tempo porque ainda existe uma imagem muito ligada a uma pessoa agitadora, relacionada a um movimento social mais agressivo. É um custo que o Boulos vai precisar dissipar ao longo do tempo. Assim como Lula era um grevista agitador e conseguiu quebrar essa barreira depois de anos, é possível que Boulos também o faça.” Sobre a atual campanha, o Fábio destaca que foi muito fraca. “Ele não conseguiu melhorar sua imagem. Inclusive ao final, quando proporcionaram uma limpeza da imagem política do Pablo Marçal ao participar da sabatina com Pablo Marçal. Isto gerou dividendos para o Marçal que vai, daqui a dois anos, se engajar em campanha e rechaçar o rótulo de extremista, porque basicamente conversou de maneira propositalmente educada com alguém de esquerda para poder falar que tem neutralidade.”

O especialista está disponível para entrevistas.

 

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