Debate sobre reforma tributária no setor mobiliza representantes do Senado em prol de agenda para evitar o drástico aumento da oneração sobre serviço essencial à saúde pública
A ABCON SINDCON, Associação e Sindicato Nacional das Concessionárias Privadas de Serviços Públicos de Água e Esgoto, e a AESBE, Associação Brasileira das Empresas Estaduais de Saneamento, promoveram na manhã de hoje (29.10) em Brasília um debate sobre o impacto da reforma tributária no saneamento. O seminário “Reforma Tributária e os Riscos para a Universalização do Saneamento” foi realizado em parceria com os jornais O Globo, Valor Econômico e rádio CBN,
O encontro teve a presença dos senadores Eduardo Gomes e Randolfe Rodrigues, e do deputado Fernando Marangoni, além da governadora em exercício do Distrito Federal, Celina Leão, que fez a abertura do evento, mediado pela jornalista Giuliana Morrone.
Roberto Barbuti, presidente do Conselho de Administração da ABCON SINDCON, assinalou que saneamento é saúde tem sido a principal reivindicação do setor na reforma tributária, em manifestação apoiada pelo vice-presidente da AESBE, Ricardo Soavinski. Com a equiparação ao regime da saúde na reforma, seriam minimizados impactos graves e negativos sobre o setor.
“Essa oneração, se aprovada pelo Congresso nesses termos, ou seja, passando de 9,25% para 27% ou 28%, será um erro histórico, com reflexos em toda a sociedade. O debate que se inicia no Senado é uma oportunidade de o Brasil corrigir esse erro”, alertou Barbuti.
O PLP 68/24 de regulamentação do IVA da reforma tributária que tramita no Senado mantém a princípio a alíquota padrão do novo IVA da reforma – estimada entre 26% e 28% – sobre o saneamento. Hoje, o setor recolhe apenas 9,25% de impostos, referentes a PIS e Cofins. Essa drástica mudança de alíquota trará um aumento de 18% na conta de água.
Gomes e Randolfe são hoje, respectivamente, líderes da oposição e do governo no Senado, em uma demonstração de que o tema escolhido para o debate – o impacto de uma elevação drástica da oneração na reforma tributária – é motivo de preocupação para todos os parlamentares, independente de filiação política.
“Existe um consenso de que saneamento é saúde no Congresso. Não podemos onerar um setor com tamanho impacto social”, disse o senador Eduardo Gomes, que já apresentou emenda para equiparar o saneamento à saúde na reforma tributária.
Durante o seminário, foi anunciado que o relatório do grupo de trabalho da Comissão de Assuntos Econômicos do Senado trazia a consideração de que o saneamento precisa ser equipado à saúde na reforma tributária, aceitando o pleito do setor. A CAE considerou 21 audiências com representantes da sociedade para chegar ao texto final do relatório.
“Nós já temos o relatório da CAE e existe um comprometimento do governo e do Senado com essa agenda do saneamento como saúde na reforma tributária. Após aprovarmos a mudança no Senado, vamos costurar um entendimento com a Câmara para eliminar essa inadequação e termos as devidas retificações para não prejudicar o saneamento”, ressaltou o senador Randolfe.
O líder do governo lembrou que já existem resultados positivos do saneamento nos últimos anos, após a vigência do marco legal do setor.
Segundo a ABCON SINDCON, com o marco legal, foram realizados 51 leilões em diversas modalidades de parceria com o setor privado com a contratação em andamento de R$ 151,7 bilhões em investimentos. Tais projetos contratualizam a universalização em 1.158 municípios. Atualmente, há 40 projetos em estruturação com investimentos estimados em R$ 113 bilhões.
Esse ritmo de investimento pode ser comprometido com a reforma tributária, uma vez que a alta na tributação demandará reequilíbrio econômico de todos os contratos do setor, em um processo que será apreciado por cerca de 100 agências regulatórias.
A governadora em exercício do Distrito Federal abriu os trabalhos do seminário ressaltando a oportunidade de discutir um tema tão relevante. “Saneamento é uma área essencial, é um direito básico”, resumiu Celina Leão.
Presidente da Frente Parlamentar do Saneamento, Marangoni disse que 70% das mortes de crianças até cinco anos ainda são causadas por doenças diarreicas. “Entre os enormes benefícios do saneamento na saúde estão a redução de custos do SUS com doenças que já poderiam ser prevenidas com água e esgoto tratados. Aumentar a alíquota do setor é um anacronismo”, afirmou.
Hoje, as despesas relacionadas a essas internações somam aproximadamente R$ 2,2 bilhões, recursos que poderiam ter sido poupados com investimentos adequados em saneamento. Segundo os dados do Sistema Único de Saúde (SUS), nos últimos três anos, doenças relacionadas à falta de saneamento foram responsáveis por cerca de 1 milhão de internações e mais de 200 mil óbitos.
“A parceria de operadores públicos e privados tem sido fundamental para trazer essa discussão à tona. Saneamento é um direito humano essencial. Investir em saneamento é investir em saúde pública”, acrescentou Soavinski.
O médico Nelson Arns disse que os efeitos da falta de saneamento na infância serão sentidos por toda a vida. “Há efeitos em cascata que vão muito além da saúde. Sem água, não há dignidade. Não é possível nem mesmo preparar comida. A falta de saneamento afeta a escola, afeta a educação. Ele afeta principalmente os mais frágeis”, afirmou ele.
Barbuti acrescentou que 74% daqueles que não possuem acesso ao saneamento recebem até um salário-mínimo. “São exatamente os mais vulneráveis, aqueles que mais necessitam do serviço”, completou.
Munir Abud, vice-presidente da AESBE, disse que o saneamento é alicerce para a saúde. “Do modo que está, a reforma tributária falha ao atingir um setor tão vital para a saúde da população”, defendeu ele.
Gesner de Oliveira, da GO Associados, disse que, além do impacto na tarifa, a oneração do setor afetará investimentos e a universalização. “O cashback deixa de lado 80 milhões de pessoas e não resolve o problema”, ressaltou. Luana Pretto, do Instituto Trata Brasil, disse que o saneamento é um retrato de desigualdades no país.